Exercício Resolvido de Movimento Bidimensional
publicidade   



Um projétil é disparado com velocidade inicial igual a v0 e formando um ângulo θ0 com a horizontal, sabendo-se que os pontos de disparo e o alvo estão sobre o mesmo plano horizontal e desprezando-se a resistência do ar, determine:
a) A altura máxima que o projétil atinge;
b) O tempo necessário para atingir a altura máxima;
c) O tempo de duração do movimento total;
d) O alcance máximo horizontal do projétil;
e) A equação da trajetória do movimento oblíquo;
f) O ângulo de tiro que proporciona o máximo alcance;
g) Mostre que tiros com ângulos complementares têm o mesmo alcance;
h) A velocidade num ponto qualquer da trajetória;
i) As componentes da aceleração num ponto qualquer da trajetória.


Dados do problema:
  • Velocidade inicial:    v0;
  • Ângulo de tiro com a horizontal:    θ0.
Esquema do problema:

Adotamos um sistema de referência com o eixo Ox apontando para a direita e Oy para cima, a aceleração da gravidade está apontada para baixo e o ponto de disparo está na origem do referencial (x0, y0) = (0, 0), (Figura 1).

Figura 1

Solução

O movimento pode ser decomposto ao longo dos eixos x e y. As componentes da velocidade inicial v0 são dadas em módulo por (Figura 2)
\[ \begin{gather} v_{0x}=v_0\cos\theta_0 \tag{I}\\[5pt] v_{0y}=v_0\operatorname{sen}\theta_0 \tag{II} \end{gather} \]
Na direção x não há aceleração atuando sobre o projétil, ele está em Movimento Retilíneo Uniforme (M.R.U.), seu movimento é dado pela equação
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {S=S_0+vt} \end{gather} \]
\[ \begin{gather} S_x=S_{0x}+v_x t \end{gather} \]
Figura 2

no movimento uniforme, vx = v0x é constante podemos substituir vx pelo valor de (I) e S0x = 0
\[ \begin{gather} S_x=0+(v_0\cos\theta_0)t\\[5pt] S_x=v_0\cos\theta_0 t \tag{III} \end{gather} \]
Na direção y o projétil está sob a ação da aceleração da gravidade, é um Movimento Uniformemente Variado (M.U.V.), representado por um lançamento vertical durante a subida e uma queda livre na descida, onde S0y = 0, v0y é dada pela expressão (II) e a = −g é a aceleração da gravidade que está na direção oposta à orientação da trajetória.
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {S=S_0+v_0 t+\frac{a}{2}t^2} \end{gather} \]
\[ \begin{gather} S_y=S_{0y}+v_{0y}t-\frac{g}{2}t^2\\[5pt] S_y=0+(v_0\operatorname{sen}\theta_0)t-\frac{g}{2}t^2\\[5pt] S_y=v_0\operatorname{sen}\theta_0t-\frac{g}{2}t^2 \tag{IV} \end{gather} \]
a equação da velocidade é dada por
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {v=v_0+at} \end{gather} \]
\[ \begin{gather} v_y=v_{0y}-gt\\[5pt] v_y=v_0\operatorname{sen}\theta_0-gt \tag{V} \end{gather} \]
a Equação de Torricelli é dada por
\[ \begin{gather} \bbox[#99CCFF,10px] {v^2=v_0^2+2a\Delta S} \end{gather} \]
\[ \begin{gather} v_y^2=v_{0y}^2-2g\Delta S_y\\[5pt] v_y^2=(v_0\operatorname{sen}\theta_0)^2-2g\Delta S_y\\[5pt] v_y^2=v_0^2\operatorname{sen}^2\theta_0-2g\Delta S_y \tag{VI} \end{gather} \]
Na Figura 3 vemos que no movimento ao longo da direção x temos que para intervalos de tempos iguais temos intervalos de espaços iguais (Δx1 = Δx2 = Δx3 = Δx4 = Δx5 = Δx6). Na direção y temos que durante a subida para intervalos de tempos iguais temos intervalos de espaços menores, a partícula está sendo freada pela ação da gravidade (Δy1 > Δy2 > Δy3), até que a velocidade vy se iguala a zero. Durante a descida a gravidade começa a puxar a partícula de volta ao solo com velocidade acelerada, para intervalos de tempos iguais temos intervalos de espaços cada vez maiores (Δy4 < Δy5 < Δy6).

Figura 3

a) Para encontrarmos a altura máxima, hmax, atingida pelo projétil analisamos o movimento ao longo da direção y. Quando o projétil atinge a altura máxima sua velocidade vy se iguala a zero, vy = 0, usando a equação (VI)
\[ \begin{gather} 0^2=v_0^2\operatorname{sen}\theta_0^2-2gh_{max}\\[5pt] 2gh_{max}=v_0^2\operatorname{sen}^2\theta_0 \end{gather} \]
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {h_{max}=\frac{v_0^2\operatorname{sen}^2\theta_0}{2g}} \end{gather} \]

b) O tempo de subida, tS, para atingir a altura máxima será obtido da equação (V) com a condição de que a velocidade se iguala a zero na altura máxima atingida pelo projétil, vy = 0
\[ \begin{gather} 0=v_0\operatorname{sen}\theta_0-gt_{\small S}\\[5pt] gt_{\small S}=v_0\operatorname{sen}\theta_0 \end{gather} \]
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {t_{\small S}=\frac{v_0\operatorname{sen}\theta_0}{g}} \end{gather} \]

c) O tempo total, tT, do movimento será a soma dos tempos de subida, tS, e de descida, tD, sendo que no movimento de lançamento vertical e queda livre os tempos de subida e de descida são iguais, temos a condição
\[ \begin{gather} t_{\small T}=t_{\small S}+t_{\small D} \end{gather} \]
com tS = tD
\[ \begin{gather} t_{\small T}=2t_{\small S} \end{gather} \]
usando o resultado para o tempo de subida obtido no item anterior
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {t_{\small T}=2\frac{v_0\operatorname{sen}\theta_0}{g}} \end{gather} \]

d) O tempo calculado acima, para o projétil subir e descer, é também o tempo que ele levará para ir da origem até o ponto Smax ao longo do eixo-x, substituindo a resposta do item anterior na equação (III)
\[ \begin{gather} S_{max}=\left(v_0\cos\theta_0\right)\left(2\frac{v_0\operatorname{sen}\theta_0}{g}\right)\\[5pt] S_{max}=\frac{v_0^2}{g}2\operatorname{sen}\theta_0\cos\theta_0 \end{gather} \]
Lembrando da Trigonometria
\[ \begin{gather} \operatorname{sen}(\alpha+\alpha)=\operatorname{sen}\alpha\cos\alpha+\operatorname{sen}\alpha\cos\alpha\\[5pt] \operatorname{sen}(2\alpha)=2\operatorname{sen}\alpha\cos\alpha \end{gather} \]

e substituindo esta identidade na equação acima, obtemos o alcance máximo
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {S_{max}=\frac{v_0^2}{g}\operatorname{sen}(2\theta_0)} \end{gather} \]

e) Para obter a equação da trajetória, indicada na Figura 1, temos que ter y com função de x, ou y = f(x), usando as equações (III) e (IV) para os movimentos em x e y e lembrando que S0x = S0y = 0, temos o sistema
\[ \left\{ \begin{array}{l} S_x=v_0\cos\theta_0t\\ S_y=v_0\operatorname{sen}\theta_0t-\dfrac{g}{2}t^2 \end{array} \right. \]
isolando o tempo na primeira equação
\[ \begin{gather} t=\frac{S_x}{v_0\cos\theta_0} \end{gather} \]
substituindo este valor na segunda equação
\[ \begin{gather} S_y=v_0\operatorname{sen}\theta_0\left(\frac{S_x}{v_0\cos\theta_0}\right)-\frac{g}{2}\left(\frac{S_x}{v_0\cos\theta_0}\right)^2 \end{gather} \]
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {S_y=-{\frac{g}{2v_0^2\cos^2\theta_0}S_x^2}+\frac{\operatorname{sen}\theta_0}{\cos\theta_0}S_x} \end{gather} \]
Fazendo a associação mostrada abaixo com uma Equação do 2.º Grau do tipo y = ax2+bx+c
\[ \begin{array}{c} S_y & = & -{\dfrac{g}{2v_0^2\cos^2\theta_0}} & S_x^2 & + & \dfrac{\operatorname{sen}\theta_0}{\cos\theta_0} & S_x & + & 0 \\ {\Large{\downarrow}} & & {\Large{\downarrow}} & {\Large{\downarrow}} & & {\Large{\downarrow}} & {\Large{\downarrow}} & & {\Large{\downarrow}} \\ y & = & a & x^2 & + & b & x & + & c \\ \end{array} \]
vemos que obtivemos uma função do tipo Sy = f(Sx) com o coeficiente a < 0 o que indica que a nossa trajetória é uma parábola de “boca” para baixo.

f) A resposta obtida no item (d) para o alcance máximo, Smax, depende do ângulo inicial de lançamento, da trigonometria sabemos que a função seno varia de −1 a 1, o valor máximo do alcance ocorre quando
\[ \begin{gather} \operatorname{sen}(2\theta_0)=1\\[5pt] 2\theta_0=\operatorname{arc sen}(1) \end{gather} \]

Da Trigonometria, o seno cujo o arco vale 1 é
\[ \begin{gather} \theta_0=\operatorname{arc sen}(1)=90° \end{gather} \]

\[ \begin{gather} 2\theta_0=90°\\[5pt] \theta_0=\frac{90°}{2} \end{gather} \]
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {\theta_0=45°} \end{gather} \]

g) Em trigonometria temos que ângulos complementares são aqueles que somam 90° ou \( \frac{\pi}{2} \), dois ângulos θ1 e θ2 complementares
\[ \begin{gather} \theta_1+\theta_2=\frac{\pi}{2} \tag{VII} \end{gather} \]
Usando o resultado do item (d) que dá o alcance máximo, escrevemos os alcances Smax1 e Smax2 para os ângulos acima
\[ \begin{gather} S_{max1}=\frac{v_0^2}{g}\operatorname{sen}(2\theta_1) \tag{VIII}\\[5pt] S_{max2}=\frac{v_0^2}{g}\operatorname{sen}(2\theta_2) \tag{IX} \end{gather} \]
Figura 4

Escrevendo a expressão (VII) de θ2 em função de θ1
\[ \begin{gather} \theta_2=\frac{\pi}{2}-\theta_1 \end{gather} \]
e substituindo na equação (IX)
\[ \begin{gather} S_{max2}=\frac{v_0^2}{g}\operatorname{sen}\left[2\left(\frac{\pi}{2}-\theta_1\right)\right]\\[5pt] S_{max2}=\frac{v_0^2}{g}\operatorname{sen}\left(\pi-2\theta_1\right) \end{gather} \]
Lembrando da Trigonometria
\[ \operatorname{sen}(\alpha-\beta)=\operatorname{sen}\alpha\cos\beta-\operatorname{sen}\beta\cos\alpha \]
\[ \begin{gather} S_{max2}=\frac{v_0^2}{g}\left(\operatorname{sen}\pi\cos 2\theta_1-\operatorname{sen}2\theta_1\cos\pi\right) \end{gather} \]
sendo \( \operatorname{sen}\pi=0 \), \( \cos\pi=-1 \)
\[ \begin{gather} S_{max2}=\frac{v_0^2}{g}\left[0.\cos2\theta_1-\operatorname{sen}2\theta_1.(-1)\right]\\[5pt] S_{max2}=\frac{v_0^2}{g}\operatorname{sen}(2\theta_1) \tag{X} \end{gather} \]
comparando as equações (VIII) e (X)
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {S_{max1}=S_{max2}} \tag{Q.E.D} \end{gather} \]
Observação: Q.E.D. é a abreviação da expressão em latim “quod erat demosntrandum” que significa “como queríamos demonstrar”.


h) Em um ponto qualquer da trajetória o vetor velocidade, \( \vec v \), pode ser decomposto nas suas componentes ao longo dos eixos x e y, \( {\vec v}_x \) e \( {\vec v}_y \), (Figura 5-A).
O vetor velocidade será a soma vetorial de suas componentes
\[ \begin{gather} \vec v={\vec v}_x+{\vec v}_y \end{gather} \]
Figura 5

Na Figura 5-B vemos que os vetores formam um triângulo retângulo e o módulo da velocidade pode ser calculado aplicando o Teorema de Pitágoras
\[ \begin{gather} v^2=v_x^2+v_y^2 \tag{XI} \end{gather} \]
usando vx = v0x da expressão (I), e vy da equação (V)
\[ \begin{gather} v^2=(v_0\cos\theta_0)^2+(v_0\operatorname{sen}\theta_0-gt)^2\\[5pt] v^2=v_0^2\cos^2\theta_0+v_0^2\operatorname{sen}^2\theta_0-2v_0\operatorname{sen}\theta_0gt+g^2t^{2} \end{gather} \]
nos dois primeiros termos do lado direito da igualdade colocamos \( v_0^2 \) em evidência e no terceiro e quarto termos colocamos −2g em evidência
\[ \begin{gather} v^2=v_0^2\left(\cos^2\theta_0+\operatorname{sen}^2\theta_0\right)-2g\left(v_0\operatorname{sen}\theta_0t-g\frac{t^2}{2}\right) \tag{XII} \end{gather} \]
Da Trigonometria
\[ \begin{gather} \cos^2\alpha+\operatorname{sen}^2\alpha=1 \end{gather} \]

no primeiro termo entre parênteses aplicamos a identidade trigonometrica acima, o segundo termo entre parênteses pode ser obtido da equação (IV) da posição na direção y com S0 = S0y
\[ \begin{gather} S_y-S_{0y}=v_0\operatorname{sen}\theta_0t-\frac{g}{2}t^2 \end{gather} \]
sendo \( \Delta S_y=S_y-S_{0y} \), assim a equação (XII) pode ser escrita
\[ \begin{gather} v^2=v_0^2-2g\Delta S_y \end{gather} \]
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {v=\sqrt{v_0^2-2g\Delta S_y}} \end{gather} \]

i) A aceleração da gravidade, \( \vec g \), a que o projétil está sujeito em qualquer ponto da trajetória pode ser decomposta na aceleração tangencial, \( {\vec g}_t \), e na aceleração normal, \( {\vec g}_n \), que é perpendicular à trajetória no ponto considerado (Figura 6-A). Da Figura 6-C
\[ \begin{gather} \cos\theta =\frac{g_t}{g}\\[5pt] g_t=g\cos\theta \tag{XIII} \end{gather} \]
\[ \begin{gather} \operatorname{sen}\theta =\frac{g_n}{g}\\[5pt] g_n=g\operatorname{sen}\theta \tag{XIV} \end{gather} \]
onde θ é ângulo entre a aceleração da gravidade, \( \vec g \), e sua componente tangencial, \( {\vec g}_t \), num ponto qualquer da trajetória. Mas este ângulo é o mesmo que temos entre a velocidade do projétil, \( \vec v \), e sua componente ao longo da direção y, \( {\vec v}_y \), (Figura 6-B).
Pela Figura 6-D
\[ \begin{gather} \cos\theta =\frac{v_y}{v} \end{gather} \]
usando o resultado do item anterior para o valor da velocidade
\[ \begin{gather} \cos\theta =\frac{v_y}{\sqrt{v_0^2-2g\Delta S_y}} \end{gather} \]
Figura 6

substituindo este valor do cosseno na expressão (XIII) a aceleração tangencial será
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {g_t=g\frac{v_y}{\sqrt{v_0^2-2g\Delta S_y}}} \end{gather} \]
Da mesma forma da Figura 6-D
\[ \begin{gather} \operatorname{sen}\theta =\frac{v_x}{v}\\[5pt] \operatorname{sen}\theta=\frac{v_x}{\sqrt{v_0^2-2g\Delta S_y}} \end{gather} \]
e substituindo na expressão (XIV) para a aceleração normal
\[ \begin{gather} \bbox[#FFCCCC,10px] {g_n=g\frac{v_x}{\sqrt{v_0^2-2g\Delta S_y}}} \end{gather} \]
publicidade   

Licença Creative Commons
Fisicaexe - Exercícios Resolvidos de Física de Elcio Brandani Mondadori está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-Compartilha Igual 4.0 Internacional .