Uma carreta de massa
M move-se sem atrito em trilhos horizontais com velocidade
v0.
Na parte dianteira da carreta coloca-se um corpo de massa
m com velocidade inicial zero em relação à
carreta. Para que comprimento da carreta o corpo não cairá da mesma? As dimensões do corpo em relação ao
comprimento da carreta podem ser desprezadas. O coeficiente de atrito entre o corpo e a carreta é μ.
Dados do problema:
- Velocidade da carreta: v0;
- Massa da carreta: M;
- Velocidade inicial do corpo: v0B = 0;
- Massa do corpo: m;
- Coeficiente de atrito entre o corpo e a carreta: μ.
Esquema do problema:
Adota-se um sistema de referência no solo com origem na parte traseira da carreta e orientado para a
direita (Figura 1). Sendo L o comprimento da carreta a parte dianteira está a uma distância
S = L da origem. Vamos adotar que o bloco de massa m foi colocado na parte
dianteira da carreta de forma bastante suave, de modo que não ocorram perturbações verticais no sistema
além da força peso do corpo e da reação normal da carreta sobre o bloco. Adotamos a aceleração da
gravidade é igual a g.
Solução
Pela 1.ª Lei de Newton “Todo corpo tende a permanecer em repouso ou em movimento
retilíneo uniforme, a menos que uma força altere seu estado”, então o bloco tende a permanecer no
ponto L onde foi colocado, mas como a carreta se desloca para a direita, e existe atrito entre o
bloco e a carreta, ela atua no bloco com uma força de atrito para a direita (Figura 2-A). Essa força de
atrito altera o estado de repouso do corpo e começa a arrastar o bloco para a direita com aceleração
aB.
Pela 3.ª Lei de Newton “A toda ação sempre se opõe uma reação igual ou a ação mútua de
dois corpos um sobre o outro é sempre igual, e dirigida em sentidos opostos”, assim à ação da força
de atrito da carreta no bloco opõe-se a reação da força de atrito do bloco na carreta, de mesma
intensidade, e dirigida para a esquerda (Figura 2-B) o que vai produzir na carreta uma desaceleração
aC.
Isolando os corpos e analisando as forças que atuam neles podemos aplicar a
2.ª Lei de Newton
\[
\begin{gather}
\bbox[#99CCFF,10px]
{\vec{F}=m\vec{a}} \tag{I}
\end{gather}
\]
Bloco:
- \( {\vec P}_{B} \): força peso do bloco;
- \( {\vec N}_{B} \): força normal de reação da superfície;
- \( {\vec F}_{at} \): força de atrito.
Figura 3
Na direção vertical não há movimento, a força peso
\( {\vec P}_{B} \)
e a força normal de reação
\( {\vec N}_{B} \)
se anulam.
\[
\begin{gather}
N_{B}=P_{B} \tag{II}
\end{gather}
\]
A força peso é dada por
\[ \bbox[#99CCFF,10px]
{P=mg}
\]
aplicando esta expressão ao bloco
B
\[
\begin{gather}
P_{B}=mg \tag{III}
\end{gather}
\]
substituindo a expressão (III) na expressão (II)
\[
\begin{gather}
N_{B}=mg \tag{IV}
\end{gather}
\]
Na direção horizontal aplicando a expressão (I) temos a força de atrito como a resultante
\[
\begin{gather}
F_{at}=ma_{B} \tag{V}
\end{gather}
\]
como a força de atrito é dada por
\[ \bbox[#99CCFF,10px]
{F_{at}=\mu N}
\]
para bloco a força de atrito será
\[
\begin{gather}
F_{at}=\mu N_{B} \tag{VI}
\end{gather}
\]
igualando as expressões (V) e (VI)
\[
\begin{gather}
\mu N_{B}=ma_{B} \tag{VII}
\end{gather}
\]
substituindo a expressão (IV) na expressão (VII)
\[
\begin{gather}
\mu \cancel{m}g=\cancel{m}a_{B}\\
a_{B}=\mu g \tag{VIII}
\end{gather}
\]
Carreta:
- \( {\vec P}_{C} \): força peso da carreta;
- \( {\vec N}_{1} \) e \( {\vec N}_{2} \): forças normais de reação da superfície;
- \( -{\vec F}_{at} \): força de atrito, \( \left|\;{\vec{F}}_{at}\;\right|=\left|\;-{\vec{F}}_{at}\;\right| \).
Na direção vertical não há movimento, a força peso
\( {\vec P}_{C} \)
e as forças normais de reação
\( {\vec N}_{1} \) e
\( {\vec N}_{2} \)
se anulam.
Observação: Não é preciso escrever a equação da 2.ª Lei de Newton para a direção
vertical, pois, a força de atrito que aparece na carreta
\( -{\vec{F}}_{at} \)
tem o mesmo módulo da força de atrito do bloco, e esta força depende da reação normal do bloco
\( {\vec{N}}_{B} \)
e não das reações normais nas rodas da carreta
\( {\vec{N}}_{1} \) e \( {\vec{N}}_{2} \).
Se existisse atrito entre as rodas e os trilhos então esta força de atrito dependeria das reações normais
nas rodas e da massa da carreta
\( P_{C}=Mg \).
Na direção horizontal aplicando a expressão (I) temos a força de atrito como a resultante
\[
\begin{gather}
-F_{at}=Ma_{C} \tag{IX}
\end{gather}
\]
com a força de atrito dada pela expressão (VI)
\[
\begin{gather}
-\mu N_{B}=Ma_{C} \tag{X}
\end{gather}
\]
substituindo a expressão (III) na expressão (X)
\[
\begin{gather}
-\mu mg=Ma_{C}\\
a_{C}=\frac{-{\mu mg}}{M} \tag{XI}
\end{gather}
\]
O bloco sob a ação da força de atrito com a carreta começa a acelerar a partir do repouso até uma velocidade
final. A carreta sob a ação da força de atrito com o bloco começa a desacelerar até uma velocidade final.
A
Equação de Torricelli é dada por
\[ \bbox[#99CCFF,10px]
{v^{2}=v_{0}^{2}+2a\Delta S}
\]
escrevendo esta expressão para os dois corpos
\[
\begin{gather}
v_{B}^{2}=v_{0B}^{2}+2a_{B}\Delta S_{B}\\
v_{B}^{2}=0+2\mu gL\\
v_{B}^{2}=2\mu gL
\end{gather}
\]
\[
\begin{gather}
v_{C}^{2}=v_{0C}^{2}+2a_{C}\Delta S_{C}\\
v_{C}^{2}=v_{0}^{2}-2\frac{\mu mg}{M}L
\end{gather}
\]
Observação: Por que o deslocamento do bloco ΔSB é igual ao
deslocamento da carreta ΔSC e igual ao comprimento da carreta (L)?
“Esquecendo” o sistema de referência no solo, vamos considerar um ponto p na traseira da
carreta e um ponto q na dianteira, e adotemos um outro sistema de referência no ponto p
fixo na carreta (Figura 5). Para um observador em p olhando para a dianteira ele vê o bloco
começando a se deslocar em sua direção com velocidade inicial −v0, o módulo da
velocidade vai diminuindo até se anular quando o bloco atinge o ponto p,
v0>v1>v2>...>vf=0,
de modo que o bloco não caia da carreta. Assim o bloco vai se deslocar todo o comprimento da carreta
\( \Delta S_{B}=L \).
Atenção: pela Figura 5 parece que o bloco se desloca para trás, na verdade o bloco se
desloca para frente sob a ação da força de atrito. Visto do referencial em p a carreta está
fixa para o observador e o bloco e os trilhos se deslocam para trás, da mesma forma quando estamos
sentados num carro as árvores e as marcas da estrada ficam para trás.
Adotando agora um sistema de referência fixo no bloco no ponto q (Figura 6). Para um observador
no bloco olhando para a traseira ele vê o ponto p começando a se deslocar em sua direção com
velocidade inicial v0, o módulo da velocidade vai diminuindo até se anular quando o
ponto p atinge a posição do bloco
v0>v1>v2>...>vf=0,
de modo que o bloco não caia da carreta. Assim o ponto p vai se deslocar de uma distância igual
ao comprimento da carreta
\( \Delta S_{C}=L \).
Para que o bloco não caia da carreta devemos ter a condição de que quando o bloco chega na parte traseira da
carreta as velocidades finais do bloco e da carreta sejam iguais.
\[
\begin{gather}
v_{B}^{2}=v_{C}^{2}\\
2\mu gL=v_{0}^{2}-2\frac{\mu mg}{M}L\\
2\mu gL+2\frac{\mu mg}{M}L=v_{0}^{2}
\end{gather}
\]
colocando o fator 2μ
gL em evidência do lado esquerdo da igualdade
\[
2\mu gL\left(1+\frac{m}{M}\right)=v_{0}^{2}
\]
na expressão entre parênteses o fator comum entre 1 e
M é
M
\[
\begin{gather}
2\mu gL\left(\frac{M+m}{M}\right)=v_{0}^{2}\\
L\left(\frac{M+m}{M}\right)=\frac{v_{0}^{2}}{2\mu g}\\
L=\frac{v_{0}^{2}}{2\mu g}\left(\frac{M}{M+m}\right)
\end{gather}
\]
este é o comprimento mínimo para que o bloco não caia da carreta, para qualquer valor maior que este o bloco
obviamente não cai
\[ \bbox[#FFCCCC,10px]
{L\geqslant \frac{v_{0}^{2}}{2\mu g}\left(\frac{M}{M+m}\right)}
\]